Mais a visão se aprofunda,
mais estrelas se percebem,
na escuridão...

31 de agosto de 2013

A tua casa continuará aberta e iluminada


Ontem, a tua cabecinha repousava em minha mão,
quando a vida física deixou tua pequena morada,
fragilizada pelo tempo.

Tua essência de amor, companhia e carinho incondicionais,
inocência e alegria singelas,
sabedoria expressa apenas pelo olhar,
ganhou a dimensão em que transitam os seres de luz,
finalmente liberta.

Tudo valeu e permanecerá em nós.
Mas, sempre terá sido pouco,
porque, sabemos, não existe o sempre.

Somos gratos por tudo e por todos os momentos,
desde o início, até os preciosos segundos adicionais
conquistados apenas pela tua auto-superação.

As palavras que te alegravam
continuarão a ser ditas com leveza,
assim que o nó sair da garganta.

A tua casa continuará aberta e iluminada,
os teus lugares continuarão teus
e os corações e olhos continuarão a te ver neles,
novamente feliz.

(In Memoriam - Kika, Dóbi)
04:45H 18.09.2007

29 de agosto de 2013

Almas de rua


Somos todos,
somos muitos,
somos um só.

Cães, pássaros, pessoas, gatos, cavalos,
olhos, asas, corações, atitude, solidão,
somos tão diversos e somos o mesmo.

Estamos aqui e em quaisquer lugares,
almas de rua, órfãs da vida,
transitando em espaços invisíveis aos olhos cotidianos,
etereamente conectadas pelas circunstâncias,
vivendo o que nos restou,
olhos fixos nas esperanças.

10/2005 (versão) - rev. agosto 2013




Street souls

We're all,
we're too many,
we're a whole.

Dogs, birds, people, cats, horses,
eyes, wings, hearts, attitude, solitude,
we're so different and we're the same.

We're here and elsewhere,
street souls, orphans from this life,
moving through spaces
invisible to quotidian eyes,
ethereally connected by circumstances,
living what remained for us, 
staring at our  hopes.

10.2005 (original) - rev. 08.2013

28 de agosto de 2013

As flores que cultivo


Minha caminhada e' o quanto te arrastas.
Meu pão e' o que o diabo te amassou,
enquanto eu dormia,
enquanto te escondias nesta selva.

As flores que cultivo,
são os espinhos em tuas mãos.

Enquanto penso,
tua mente se embota no álcool
e se desalenta.

Luto ferozmente,
para ter e manter o que quero,
enquanto não tens forças
para caminhar em tua miséria.

Meus esforços compensados
são os teus, nem percebidos.
Meu corpo se fortalece,
enquanto teu esqueleto
já não tem o que sustentar.

Às vezes, te encontro pelas ruas
e te dou um pouco do que consegui,
dolorosamente sabendo
que em nada te ajudo.

E vou pra casa angustiado,
sem entender como podemos
ser filhos de um mesmo Deus.

(escrito numa madrugada, há décadas)

26 de agosto de 2013

Porto


(Este texto é a seqüência de Nau abandonada)

Mais do que sei desta jornada,
das avassaladoras noites percorridas,
das mensagens tecidas de coração,
incompreensíveis.

Bem além da onipresente escuridão,
dos dias desorientados de luz e névoa,
e ideais.

Para lá das ondas,
das pedras, das tempestades,
dos rumos, do tempo.

Longe do revoltado comando,
dos sentimentos e inquietudes,
dos pensamentos.

Junto aos pássaros,
na branca espuma,
no sibilar do vento,
finalmente estarei.

agosto.2013

25 de agosto de 2013

Perdoa


Tantos nomes imaginados,
um nome escolhido,
jamais pronunciado.

Não vi teus primeiros passos,
não acalmei o teu choro,
nem ouvi a tua primeira palavra.

Não brincamos juntos,
não corri com você nos ombros,
não te ensinei a nadar,
nem a andar de bicicleta.

Não consertei tuas bonecas,
não te dei um cãozinho,
nem construí brinquedos incríveis
para te maravilhar.

Não curei teus machucados,
não acariciei teus cabelos,
nem te aqueci em meu abraço.

Não atravessei noites acordado,
preocupado com a tua febre.

Não deixei jamais de ser adulto,
para rirmos juntos, infantilmente,
por quaisquer besteiras.

Não tivemos longas conversas
sobre princípios, bondade, compaixão.

Não discutimos nossos valores e sentimentos,
até descobrirmos serem diferentes, 
porém iguais na essência.

Não acompanhei teus estudos,
tua escolha de carreira,
nem fui à entrega do teu diploma,
para te abraçar com orgulho incontido.

Não te serenizei, depois das brigas com namorados,
nem opinei sobre aquele com quem casarias.

Perdi o teu casamento,
o nascimento e os aniversários do teu filho,
os presentes e o carinho que daria ao meu neto.

Perdoa, filha,
por não haveres nascido...

(escrito há muito, muito tempo...)

24 de agosto de 2013

Cem horas percorridas... (fragmento)


Cem horas percorridas, a cada noite insone,
olhos e ouvidos atentos, cérebro sem descanso,
triturando e extraindo a essência do meu tempo,
vida, amor, fel, rancor e lágrima,
depois indeléveis, sobre papel virtual.

Palavras contidas até o momento suportável,
árvores centenárias que finalmente tombam
sob a tempestade,
ainda agarradas ao solo que as alimentou, 
desnudando aos olhos um pedaço de céu
vazio.

Sou cem horas percorridas... 

22.09.2007 - rev. ago.2013

19 de agosto de 2013

O que restou?


Conversar comigo mesmo, com você, com Deus?

Palavras cíclicas?
Reviver momentos triturados de sobressaltos,
rasgar sentimentos amarrotados,
ouvir pensamentos metalicamente precisos,
atravessando a memória inalterada,
trazendo o ontem para dentro do coração?

Palavras perdidas?
Falar da dor que não passa,
dos momentos de ausência em que te chamo,
ansiando descobrir o que a mente não compreende?

Recriar a oração e a fé,
esperar merecer a graça,
alimentar a mesma esperança decepcionada
dos tristes ilusórios dias da infância?

O que restou?

16/10/2007 - rev. agosto 2013

18 de agosto de 2013

Uma longa noite inútil


Madrugada de um dia qualquer,
todo o trabalho feito,
peso das lembranças no ar denso,
silêncio anormal na casa,
noite nublada, apagada,
ruas ainda mortas, à espera do rush,
emissoras sonolentas, a repetir o dia anterior.

A mente quer parar de sentir o coração.
As idéias giram e giram, não desistem,
revisitam momentos, revivem sobressaltos,
mas não trazem palavra nova, solução ou alento.

Está amanhecendo e, ainda,
nada tenho a oferecer ao passado,
que possa mudar este presente.

01.10.2007 - 05:59am - rev. agosto.2013

16 de agosto de 2013

I've been...


I've been restless
for long slow moving nights,
looking for the wisdom stars
in the deep, deep sky.

My mind has been eagerness
to reach the disclosure light.
What's life worth for,
if my mind can't reach the whole,
if my mind can't reach a star?

I've been restless
for long lonely nights,
sometimes lost in the deep,
deep inside of me.

My heart has been anguish
to touch the subtle.
What's life worth for,
if my heart can't touch the soul ?

I've been restless
for many merciless nights.
But, every weary morning,
even knowing how poor
my spirit still remains,
I can perceive more light
before my closed eyes.

september/1998 - rev. august.2013




Tenho estado...

Tenho estado sem descanso,
por longas noites que se arrastam,
procurando pelas estrelas da sabedoria,
no profundo, profundo céu.

Minha mente tem sido uma ânsia
por alcançar a luz da compreensão.
Qual o valor da vida,
se minha mente não puder alcançar o todo,
se minha mente não puder alcançar uma estrela?

Tenho estado sem descanso,
por longas noites solitárias,
às vezes perdido nas profundezas,
nas profundezas de mim mesmo.

Meu coração tem sido uma angústia
por tocar o impalpável.
Qual o valor da vida,
se meu coração não puder tocar a alma?

Tenho estado sem descanso
por muitas implacáveis noites.
Mas, todas as manhãs cansadas,
mesmo sabendo quão pobre
meu espírito ainda permanece,
posso perceber mais luz,
diante dos meus olhos fechados.

setembro.1998 - rev. agosto 2013

13 de agosto de 2013

Anjos torpes


Anjos nascidos na luz,
saídos do vôo etéreo para os sonhos,
e dos sonhos para a vida.
Tudo sabem, sem bem saber como,
lutam muito, de tudo participam,
tudo guardam, querem e esperam reciprocidade.
Quebram-se as asas,
colidem com todo o Universo,
ferem e se ferem.
Destroem-se, transformam-se em atormentadores
demônios inconformados...
até não mais suportarem sua mera existência
causando tanto sofrimento a tantos...
até perderem equilíbrio, noção,
valores e crenças, o poder de ser e de fazer,
e passarem a abominar a si mesmos,
a maldizer seu nascimento,
a maldizer sua morte, que não ocorre,
até se tornarem tristeza absoluta,
essencial,
entorpecidos,
anjos torpes.

agosto.2013

10 de agosto de 2013

Lutador, lutador...


Vim ao mundo
com a simplicidade que Deus me deu,
para a vida simples dos que me receberam.

Nada me veio fácil,
de tudo tive, de tudo me faltou,
de tudo persegui
e quase não me vi criança...
cresci.

Com a mesma simplicidade recebi
quem ao mundo veio
para em mim se abrigar.
E construí, supri, criei, defendi,
falhei e acertei, perdi, ganhei,
deixei de ser só.

Tanto de errado fiz que certo ficou,
e tanto de certo fiz que errado pareceu.

Somente lutando descobri
os certos e os errados dentro de mim,
a orientar novas lutas, sem fim.

Lutas de ir, lutas de ficar, de esperar,
lutas de desistir e voltar,
para depois tornar a lutar.

Músico, escritor, construtor, poeta,
cientista, navegador,
nada me foi dado ser.
Apenas um amigo singelo, grato,
partícipe, decidido, emocionado e crédulo,
pela vida em tudo apaixonado.
Minha força é tua, se tua causa é justa.
Ah, lutador, lutador que sou!

Mas, tantas marcas neste corpo bateram,
das lutas e caminhadas,
do tempo que vivi e do que não vi passar,
que as minhas forças envelheceram
e a vontade de fazer e ser
me ensina a aceitar,
a confiar e novamente esperar
que Deus me permita concluir a luta
cujo final Ele ainda não escreveu.

(In Memoriam - Pequeno tributo a meu sogro, Oswaldo)

19/02/2003 - 05:57h am

9 de agosto de 2013

Vai passar



Vai passar, vai passar,
tudo  ficará bem,
o ar voltará a fluir suave,
a dor e o cansaço sairão,
num sopro.

Confia,
respira calma, bem devagar.
Devagar...
Prometo que vai passar.
Logo o dia vem,
a sombra desaparece.
Acredita, vai passar.

Descansa,
descansa que estou aqui
te olhando e guardando,
orando para passar.
Acredito, acredito,
vai passar.

Descansa e sonha,
corre livre como o vento,
salta, voa, viaja
e volta,
que estarei sempre aqui.
Vai passar.

(Dóbi) 23.09.2007 - 05:01am

5 de agosto de 2013

Insight


I am voice screaming,
hands scrapping the ground,
opened eyes facing the darkness,
tired ears of whispered never-ending tales,
shredded soul under tattered skin.

Fallen seagull watching the tides
and yearning towards the stars.
Newborn angel pleading for kindliness.
A tasteless innocent childhood.

Nonsense sunset,
at the early morning.
Gathering of destitute bonkers
in soothing commotion.
Silent prayer of despaired innuendoes.
A contrite haunted daredevil.

I am shelter without sense of belonging,
blessed, disquieting and frightening fate,
a dying witness of my own life.

august 30, 1997 - rev. august.2013




Vislumbre

Sou voz gritando,
mãos escavando o chão,
olhos abertos encarando a escuridão,
ouvidos cansados de fábulas sem fim,
alma esfarrapada, sob pele retalhada.

Gaivota caída olhando as marés
e ansiando pelas estrelas.
Anjo recém nascido implorando por bondade.
Uma infância inocentemente insossa.

Um por de sol sem sentido,
ao início da manhã.
Aglomeração de loucos desamparados,
em apaziguadora comoção.
Silenciosa oração de significados desesperados.
Um intrépido contrito e assombrado.

Sou abrigo sem senso de pertencer,
abençoado, inquietante e assustador destino,
testemunha, morrendo, de minha própria vida.

30.08.1997 - rev. agosto.2013

4 de agosto de 2013

Coração audaz


Nunca soube os porquês
desta nave diminuta,
deste impulso desafiador,
deste poder de sobreviver,
desta vontade de prevalecer
deste meu coração audaz.

Noites de solidão,
lutas inevitáveis,
fome, intempérie, maldade,
tudo enfrentou e suportou,
este meu coração audaz.

Sem rumo,
mas certo de chegar
e poder esquecer agruras,
descansar as dores,
ser visto como um ser,
descobrir se existe amor
para este coração audaz.

Nem sei bem por onde estive,
até perceber-me aqui,
morada que conquistei,
vida que se acalmou,
vida apressada veloz...

Dei, recebi, amei, guardei,
ocupei todos os espaços.

Somente o tempo venceu
o que jamais deixei de ser,
este cão de coração audaz.

Tico - out/2010

3 de agosto de 2013

Queria


Deitar na areia, no rio, na nuvem, no espaço.
Repousar mente, coração e alma.

Lentamente, meu todo a se fundir
ao sol, à água, ao ar, ao nada.
até que só restem memórias e dores
que o tempo diluirá em tênue consciência.

Nenhuma nova lição, nem sentimento, nem decepção.
Nenhum remorso por não mais fazer, não mais querer,
não mais cansaço.

Sem mais ânsia por chegar a ser,
sem mais tristeza pelos que não foram e não serão.

Sem mais buscar reciprocidade, justeza, equilíbrio.
Sem inconformismos.

A mesma solidão essencial,
incômoda,
autopreservadora,
apenas eternizada.

23.03.1997 - rev. 02.08.2013