Mais a visão se aprofunda,
mais estrelas se percebem,
na escuridão...

31 de agosto de 2019

Sem escapatória...


- Você está nervoso?

- Não, não estou nervoso.

- Acho que está, sim. Conheço esse tom de voz.

- Estou até sorrindo. Como poderia estar nervoso?

- Isso é sorriso de nervoso.

- Já disse, não estou nervoso.

- Ah! Você está sim.

- Não! Eu não estou nervoso.

- Olha só! Claro que está nervoso.

- Pois é... Agora estou ficando nervoso.

- Eu sabia! Você já estava nervoso.

- Não, não estava. Só agora estou ficando...

- Conheço você... Sei que já estava nervoso.

(...tensão no ar...)

- Por favor, podemos parar com isto?

(...breve silêncio...)

- Sim, podemos.
- Não quero mais conversar.
- Você anda muito nervoso.

(...longo silêncio...)


Março - Agosto 2018

11 de agosto de 2019

Asas de libélula


Caminhando pelo corredor externo da casa, quase madrugada.
Luzes apagadas, lua brilhando muito forte.

Há algo pequeno e brilhante no chão, um reflexo furta-cor, junto à parede. Não identifico bem a sua forma.

Mais próximo, vejo uma libélula, imóvel.
Aparenta estar perfeita.
Seus olhos enormes parecem fitar a lua.
Não pode estar morta.

Contemplo aquele ser perfeito,
com a ilusão de que subitamente irá voar para longe.
Nada acontece...

Por que esse parar de vida solitário,
esse momento final, chegado como inesperado adormecer?

Coloco-a cuidadosamente sobre a palma da mão e a conduzo ao jardim,
onde a deixo "pousada" sob as plantas de uma jardineira,
para que se cumpra o seu regresso à Mãe Natureza.

Asas de estrutura admirável,
que riscaram o ar milhares de vezes,
sobrevivendo a chuvas e ventos,
levando beleza e energia exuberantes a lugares inexpugnáveis,
agora irremediavelmente quietas, diluindo-se no tempo.

O que vieram me dizer?

Evento: 27.04.2002
Texto: agosto.2019