Mais a visão se aprofunda,
mais estrelas se percebem,
na escuridão...

6 de janeiro de 2025

Um ovo, o tempo, a vida.

Um ovo.
Perfeito em sua forma,
em todos os seus atributos e finalidades.
 
Quebre-o contra a borda de um copo.
 
Observe, no interior do copo,
a gema ainda inteira, envolta na clara.
 
Observe, em suas mãos,
o interior da casca, agora vazia,
e a película que protegia a clara.
 
Mentalize o momento da quebra do ovo,
como um filme que se pudesse ver em câmera lenta,
quadro a quadro.
Durou um segundo, talvez?
 
Imagine esse filme curtíssimo, agora dividido em mil quadros,
cada um retratando um milésimo de segundo dessa breve história.
 
Visualize, então, o quadro mostrando o exato instante
em que a casca do ovo tocou a borda do copo.
 
Durante esse fatídico milésimo de segundo,
deixou de existir um ovo perfeitamente inteiro.
 
Nesse filme imaginário,
pode-se retroceder aos quadros imediatamente anteriores,
para (apenas) rever o ovo ainda intacto.
 
Na vida real, evidentemente,
a condição do ovo é irreversível.
Não há como retroceder
nem mesmo um mísero milésimo de segundo.
 
Em nossas histórias pessoais, com duração limitada e incerta,
o futuro se constrói continuamente,
somente pelo bom uso de cada ínfimo fragmento de tempo presente,
antes que se torne oportunidade perdida no passado imutável.
 
21-23.mar.2023
©Alfredo Cyrino / Indigo Virgo®