Mais a visão se aprofunda,
mais estrelas se percebem,
na escuridão...

6 de maio de 2014

Contemplei



O tudo originar-se do nada.
Escuridão, explosão, expansão, ondas gravitacionais.
Partículas precursoras, elementos já inexistentes.

Nuvens incomensuráveis, em sempiterna pulsação.
Berçários e cemitérios de estrelas.
Forças em luta nos corações nucleares e dentro de mim.
Anãs brancas, gigantes vermelhas, quasares, pulsares.

Singularidades no espaço-tempo,
passagens dimensionais, limiares de eventos.
Astros dilacerados, 
adentrando portais em que a luz desaparece.
Galáxias em colisão, 
construindo e destruindo mundos em evolução.

Supernovas arremessando luz e escombros ao Universo, 
apenas um, de infinitos Universos.

Massas coronais esfarrapadas,
línguas fulgurantes ejetadas a esmo.

Corpos planetários em formação,
repelidos, atraídos, capturados,
orbitando, semeados, colonizados,
deformados, devastados.

Planetas sobreviventes, furiosos,
cuspindo magma e fumos,
erigindo relevos sob trevas milenares.
Placas tectônicas colidindo,
fendas e fragmentos colossais.
Oceanos convulsos procurando espaços.
Gélidas fossas abissais.

Meteoros, cometas, rastros de fogo e gelo,
impactos, hecatombes.

Moléculas vitais aspergidas ao acaso,
variantes adeninas, citosinas, guaninas, timinas,
combinando-se em ácidos nucléicos indecifráveis,
de efêmeros, insólitos seres ancestrais.

Períodos glaciais, períodos abrasadores,
intermináveis.

Espécies surgindo, partindo, transmutando-se.
Vida e morte associadas 
em cadeias de inexorável, inocente crueldade.

Humanóides lentamente aprumados, caminhando,
proliferando, dominando, atemorizando, assombrando.

Embate, crueldade de divindades mitológicas,
regendo esplendor e decadência de civilizações antiqüíssimas,
em míseros átimos da escala de tempo universal.

Arrogância faraônica, crente, embalsamada.

Hordas parvas, cretinas, fanáticas, impiedosas,
partícipes degeneradas, manobradas por veredas oblíquas
de vergonhosas histórias.

Fluxos piroclásticos, petrificadas Pompéias e Herculanos.

As mãos lavadas de milhões de Pilatos.
As mãos trespassadas do Cristo crucificado.
As lágrimas de Maria.

Séculos de ignorância
preservada a comodismo, crendice, obscuridade, medo.

Expedições, invasões, conquistas, espoliações, 
travestidas em descobrimentos.
Catequeses genocidas, movidas a fétidos interesses.

Tantos Pizarros e Impérios Incas saqueados.
Tantos Atahualpas batizados e assassinados,
confiantes num Sol de Ressurreição que os abandonou.

Gerações indígenas enganadas, escravizadas, usurpadas,
banhadas em Santo Hidrargirium,
envenenadas por metais de vil valor.

Continentes assolados,
penúria de corpos, mentes, corações e almas.

As Centúrias, as marés, as ondas,
os ventos, as dunas em movimento,
o sol calcinante, os céus azuis,
as nuvens, as tormentas, os dilúvios,
as guerras.

Cogumelos nucleares estratégicos, 
decididos, ofuscantes, carbonizando vidas.

Egoísmo, egocentrismo, cinismo, hipocrisia, ganância, mesquinhez,
autoindulgência, incompreensão, desfaçatez, ignomínia,
deboche, inveja, rejeição, palavras ferinas, ódios,
pragas, perdões, falsidade, sinceridade,
mentira, verdade.

Multidões malignas, embrutecidas, preponderantes,
disseminando barbárie, sincretismo de terra devastada.

Predestinados, iluminados por inspiração e conhecimento,
justos, compadecidos, dedicados, altruístas, idealistas utópicos,
perdidos num mundo conduzido pela inépcia,
ultrajados pela mediocridade ungida por esperteza.

Miséria, fragilidade, calamidades, deficiências, epidemias.

Ciência realimentando ciência, em ritmo exponencial,
resvalando nas fronteiras da Criação,
deslindando soluções e curas
devidas a tantos jamais reconhecidos.

Seres construtivos e destrutivos,
proativos, inertes e omissos,
essências densas e translúcidas,
seus pactos, sucessos, fracassos,
suas mágoas, tragédias, passagens,
suas evoluções e retrocessos,
seus dolorosos aprendizados.

Seres Índigo, Cristal, preludiando novas eras,
mesmo combalidos por almas tenebrosas.

Dante Alighieri e Virgílio desalentados.
Nove Círculos do Inferno, alegoria sobrepujada
pelos tormentos reais da humanidade.

Ainda contemplando,
agregando memórias, percepção, consciência,
até o momento de regressar ao nada, 
a originar tudo.

fev - mai 2014

5 de maio de 2014

Não mais estão


Do meu deserto ser,
o vaso que caiu, trincou, não quebrou,
a planta que vergou, ressecou, não morreu,
as folhas que o ventou carregou,
as flores oníricas, natimortas,
a terra que se espalhou, os pés de quem a pisou,
os olhos, as palavras de quem tudo ignorou.

A mesa de aço da sala de espelhos,
no porão da casa da chuva eterna,
coberta de limo.

A fina areia branca,
derramada na calçada ensolarada,
soprada por entre grades e portão,
marcando as lágrimas e pegadas
de um exacerbado eu
que partiu para sempre.

fev - abr 2014

4 de maio de 2014

Estrelas na areia


Estrelas escavadas na areia,
abrigando chamas e fé.

Maré vazante silenciosa,
na calma da noite.

Pássaros rasantes,
sobre a ilha, o mar, a praia,
sobre o quadrilátero de proteção,
anunciando tempestade que não virá.

No tempo fluindo, imperceptível,
nas presenças, no ritmo, na música,
os atos, os ritos da terra-mãe da humanidade,
trazendo suas correntes, felicidade de ali estar,
as visões, percepções, palavras, energias, harmonização,
pelo bem humano, material, intelectual, emocional, espiritual.

E chegam finalmente os ventos de Iansã,
nem sempre agradáveis, mas necessários,
arrastando e dissipando os efeitos de todo mal.

dezembro, 2013 - janeiro, 2014

2 de maio de 2014

Dos vivos e dos mortos


Dos vivos e dos mortos, dos mil obsessores,
seus amores, dores, mágoas, pragas, rancores.
De tudo o que tenha feito ou desfeito.
Da mente, da alma, das farpas no peito.
De tudo o que me persiga, maldiga, ofenda.
De tudo o que ainda não compreenda...

Nada me aterrorizou mais
do que as águas dos meus oceanos.
Imergir, perder-me em suas insondáveis trevas,
implacáveis como o passar dos anos.

Nada me perturbou mais
do que as faces, a mudez daqueles elfos e devas,
mãos espalmadas voltadas para o céu,
ante as lágrimas e perguntas derramadas.

Nada me atormentou mais
do que os infinitos recalls da mente cruel,
os inconformismos utópicos do espírito,
desalento sobrepujando temor da morte.

Nada me aflige mais
do que esta determinação irada de arrancar respostas,
em quaisquer planos a que seja enviado,
umbrais, hospitais, veredas etéreas, planícies remotas.
Quero todos os porquês, antes de ser curado.

fev - abr 2014

Imperdoáveis eus


Cansado...

Das doutrinas, dos dogmas a querer iluminar
o que sempre soube sem aprender,
o que concebi por tanto viver,
o que sempre pratiquei sem transigir.

De não saber esquecer o que feriu.
De esbarrar com os que ferem e seguem
considerando pouco o que fizeram.
De tentar, sem querer, ser um deles.

Dos que revolveram infernos sepultados.
Dos que apedrejaram candidamente.

Dos que me esperam um dos seus.
Dos que imaginam pertencer
aos inexistentes meus.

Dos que imaginam poder julgar.
Dos que me dizem o que fazer,
dos que esperam que eu faça
dos que têm certeza de que farei.

Dos que supõem meus motivos e desenlaces iguais aos seus,
sem compreender meus caminhos, meu espírito, minha mente,
meus anormais, imperdoáveis eus.

fev - abr 2014
©Alfredo Cyrino / Indigo Virgo®