Mais a visão se aprofunda,
mais estrelas se percebem,
na escuridão...

15 de dezembro de 2014

Não bastaram


Rabiscos de que tentei desenhar um ser.
Dificuldades convertidas em capacidades.
Determinação confiante no fluir do tempo,
na resolução dos erros e injustiças, na utopia.

Não-omissão, em tudo o que me trouxe a vida.
Semear, cultivar, compartilhar uns poucos dons.
Aplicar tempo, dedicação, mãos, coração e mente,
a serenizar dores, angústias, carências, tristezas alheias.
Acreditar, peito e alma, em ser assim.

Esperar coisa alguma, senão atravessar o oceano do tempo,
quietamente, ao largo das rochas da iniqüidade humana,
imponderáveis, ocultas pela bruma.

Soçobrar...
Clamores que ninguém quis ouvir.
Feridas arruinadas que ninguém quis ver.
Estruturas colapsadas, ignoradas.
Ferozes embates de anjos e demônios de mim.

Neuro-cataclismo.
Desvalidos rumos transtornados, já desnorteados.

Criaturas mal-amadas, oportunistas, pisoteando milenar pergaminho,
dissociando fibras, esmaecendo expressão, forma, sentidos, controle,
raciocínios, abrangências, complexidades, conclusões.
Suas reais essências humanas, expostas em palavras, intenções,
indisfarçável maldade, ameaças, deboche,  menosprezo,
indeléveis injúrias celeradas.

Não bastaram.
Ainda sou
dominador, irado inconformismo kamikaze,
contraditórios aprendizados em conflito infindo,
dores, enganos, derrotas, irremissíveis culpas,
implacável memória de incontáveis vidas e mortes,
luz abrindo passagens por entre meus muros de vidro,
estilhaçados, mas sempre reconstruídos e reconstruídos,
a proteger escombros desta cidadela,
eternamente a desafiar as trevas.

maio - junho 2014
©Alfredo Cyrino / Indigo Virgo®