Mais a visão se aprofunda,
mais estrelas se percebem,
na escuridão...

10 de dezembro de 2014

Conversa sobre a Kate e o Tico


Primeiro dia do ano.
Manhã chuvosa.
Levo a Vivi e o Tuco ao jardim.

Cumprem a sua rotina matinal,
fitando as nuvens, sonolentos,
parecendo procurar o sol que não está.

Agem de modo diferente dos outros dias.
Continuam olhando em torno, como que indagando.
Sentam-se à minha frente, com olhos telepáticos
que me trazem de pronto a ausência do Tico e da Kate.

Por alguns instantes, converso com eles,
sem palavras, represando tristeza e saudades,
apenas pensando no que talvez já saibam,
e, talvez, para que saibam que eu sei.

Digo-lhes que passagens de ano
não têm significado para a vida além do tempo,
não fecham ou abrem portas no nosso tempo,
não deixam para trás aqueles com quem partilhamos vida terrena,
não apagam as marcas, as características, os ensinamentos
gravados em nós pelos que partiram.

Permanecemos em silêncio, ouvindo a chuva,
comungando da mesma, imensa, alma canina.

03 jan 2012 - 06h53m
©Alfredo Cyrino / Indigo Virgo®