Mais a visão se aprofunda,
mais estrelas se percebem,
na escuridão...

16 de fevereiro de 2012

Pessoas não-interferentes


Conduzem suas vidas distantes de atos altruísticos, ações voluntárias, exposições pessoais desnecessárias. 

Fogem, apavoradas, de doentes, desassistidos, agredidos, traficados, torturados, explorados, vilipendiados: homens, mulheres, crianças, jovens, idosos, animais, o que seja.

Concedem-se praticar jargões politicamente corretos, manifestar consternação oportuna e convincente, apenas em medida suficiente à garantia da imagem livre de críticas.
Maior intensidade seria dispêndio inútil de energia.

Consideram o planeta indestrutível, inesgotável, absolutamente auto-regenerador, propriedade a ser explorada sem respeito pelos seus demais ocupantes.

Com inescrupulosa maestria, evocam a ética, distorcem valores, passam-se por benfeitoras ou vítimas, enquanto furiosamente rotulam o pensamento divergente, sofismam, formulam as teorias conspiratórias que suas bocas-de-bate-estacas pronunciarão ad nauseam.

Defendem um imaginário Estado democrático e enxuto, mas paradoxalmente onisciente, onipotente, provedor de todas as soluções em que jamais se envolveriam de maneira proativa.
Pagam tributos, pagando a consciência, em nome da desobrigação.

Não as incomodam, de fato, as mazelas do Estado real, corrompido, degenerado, decadente, conquanto não lhes atinjam as conveniências.

Conhecedoras das próprias verdades, vestem posturas e atitudes ensaiadas até que o espelho lhes mostre pessoas genuínas, abnegadas, compassivas.

Jamais proferem aquelas palavras simples...
Desculpam-se ou agradecem através do silêncio.


Extremo oposto, interferentes obstinadas ousam fazer o que precisa ser feito.

Entretanto, a Criação parece expressar imensa insatisfação para com interferências nos desígnios infernais já traçados para os abandonados, doentes, desassistidos, agredidos, explorados, traficados, torturados, vilipendiados.

Preparou então o purgatório em que as interferentes são premiadas com dificuldades materiais, constrangimentos, humilhações, obstáculos de toda sorte à realização de suas interferências.

Destinou-lhes, ainda, a crítica, a arrogância e o escárnio boçal dos preguiçosos morais, a quem consentiu assentar comodamente suas crédulas bundas em inexpugnáveis troninhos de "coroas da criação".

Um desafio e um teste, ambos de péssimo gosto.
Aceito o primeiro. 
Ignoro o segundo. 

10/04/2011- rev. fev/2012 (original)