Mais a visão se aprofunda,
mais estrelas se percebem,
na escuridão...

8 de julho de 2013

Réquiem


 Pelas memórias metálicas
pelas dores que te mostrei,
pelas tristezas que ocultei.

Pelos mil perdões que pedi,
mesmo quando não perdoei.
Por acreditar poder ser igual,
avatar para o mundo normal.

Pelas carniças mal enterradas,
pela pedra sobre o fosso fétido,
pelo coração que tudo guardou,
pelos farrapos mal remendados
desta alma que jamais se curou.

Pelos urros, teus vidros estilhaçados,
pelos murros, meus dedos quebrados,
pelas cicatrizes, meu peito rasgado,
pelas meretrizes, venenos instilados,
pelas partidas, meus rumos truncados.

Pela ruptura, ah, implacável fadiga,
por tudo o que em pó transformei,
pela súbita morte em vida, tentei,
de um eu que morreu sem guarida.

Pelo conforto que não te dei,
pela dedicação que reconheci,
pelo bem que não preservei,
pelo mal que não suportei,
pelo esvair de forças, desistir,
pelas palavras que refutei,
pelas respostas que implorei,
por roubar e perder a paz,
pelo tanto saber ser mais,
sem conseguir fazer-me ver.

Pelas perdas que te causei,
pela vida que te tomei, enfim,
por levar o que nem sei bem
se ainda restou de mim...

junho - julho, 2013