Mais a visão se aprofunda,
mais estrelas se percebem,
na escuridão...

3 de março de 2013

Não quero...


Figuras matinais sorridentes, rolando
na grama reluzente dos comerciais.

Hinos de salvação decorados,
em bocas convictas, autobeatificadas.

Flauta doce narcisista, expirando
notas contemplativas, sonolentas.

Cães-objetos, ocupando espaço
em quintais de hipocrisia insensível.

Falatórios de farras etílicas,
envenenando meu direito à paz.

Muros de cal e limo e sal, repintados,
enfeitando dissonâncias da cidade.

Fios emaranhados, trepadeiras neuronais,
alimentando gambiarras televisivas, zumbidos,
conversas grampeadas, lâmpadas queimadas,
idéias vencidas.

Não quero mais
perguntas verdadeiras pedindo apreço,
respostas evasivas escancarando verdade,
palavras mortas de tentar expressar,
palavras soltas só para atormentar,
o que fiz e nunca mereceram,
o que mereci e nunca fizeram,
o que bem sei e nunca revelei,
o que não disse, mas imaginaram,
o que sempre disse, mas nunca entenderam.

Não quero mais
meu eu-real suportando
meu eu-estereótipo
das mentes normais.

fev.2013