Mais a visão se aprofunda,
mais estrelas se percebem,
na escuridão...

30 de junho de 2012

Veleiro na praia


Presente e tão distante, na foto sobre a mesa,
solitária e resignada, eternizada num final de tarde.
Ao fundo, um mar espelhado, fugindo da areia,
perseguindo um pôr de sol outonal, esmaecido.

Desse momento estático, de orfandade da vida,
me chegam percepções de teus pensamentos,
envoltos na atmosfera enevoada, inescrutáveis
como teus grandes olhos serenos, contemplativos.

Teu singelo veleiro a esperar, confiante,
que o vento lhe revelasse rotas e portos,
momento de enfunar as velas,
para abraçar o oceano do tempo.

Ah, tanto naveguei,
atravessando dias, nuvens, e tormentas que criei,
sem compreender o vento, as rotas, os portos.
Já o sol outonal se foi, o momento estático fluiu,
teu veleiro partiu, e ainda nada sei.

(In Memoriam - Odette Cyrino - 26.out.1930 – 08.fev.2009)

17.05.2012